domingo, 18 de outubro de 2009

I Cor. 13

1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.

2 Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.

3 Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.

4 O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
5 nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
6Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
7 Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.

8 O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil
9 Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.
10 Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
11 Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.
12 Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.

13 Agora permanecem estas três coisas:Noutros lugares das suas Cartas, Paulo exprime-se de maneira distinta.

Aqui, pelo contrário, ágape é erigida como uma espécie de grandeza única e autónoma e, além do mais, personificada. Aqui o sujeito é a caridade, como se de uma pessoa se tratasse.

Enumeram-se, uma após outra, aparentemente sem uma ordem concreta, as suas qualidades. Há uma sequência de duas notas positivas, oito negativas e cinco positivas.


+ 2 notas positivas

4O amor é paciente,
o amor é prestável,

+ 8 notas negativas

não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
5nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
6Não se alegra com a injustiça,

+ 5 notas positivas
mas rejubila com a verdade.
7Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.

a) o que faz a caridade (duas notas positivas): paciente e prestável

A caridade é paciente, magnânima, capaz de aguentar as injúrias e de as não devolver. É um rasgo típico de Deus, lento para ira, que adia o castigo, para dar tempo à conversão dos pecadores (Sal.102,8; Rom.2,4;9,22);

A caridade é prestável: o termo grego sugere a ideia de senhorio, benevolência, afabilidade. É a atitude de quem ajuda com um sorriso, com tacto e discrição. Paulo recorda-nos que a caridade também se manifesta no trato exterior. A caridade é bondosa.



b) O que não faz a caridade (oito notas negativas)

A caridade não é invejosa: exclui qualquer tipo de ciúme; a inveja divide, ao passo que a caridade faz comunhão;

A caridade não é arrogante, não é presunçosa, isto é, não se ostenta, tem a noção da medida justa, da proporção das coisas. Não tem de si própria um conceito elevado!

A caridade não é orgulhosa: não faz sentir o peso dos seus gestos e do seu prestígio; põe-se ao nível dos outros.

A caridade não faz nada de inconveniente; a caridade não é grosseira. O verbo empregado alude à falta de tacto, de quem, com o seu comportamento, fere o próximo; é sensível e tem em conta a fragilidade do próximo;

A caridade não procura o seu próprio interesse: esta é a cúpula desta descrição. Valoriza a gratuidade e o desinteresse.

A caridade não se irrita; não se deixa levar pela ira ou pela cólera; não é ácida. O amor não perde o controle de si.

A caridade não guarda ressentimento: a caridade tem um coração cândido e simples: não pensa no mal, quer dizer, não julga o mal cometido pelo próximo e não tem em conta o mal recebido;

A caridade não se alegra com a injustiça, não desfruta com a injustiça, antes sofre por amor da justiça; “a capacidade de aceitar o sofrimento por amor do bem, da verdade e da justiça é também constitutiva da grandeza da humanidade” [Spe Salvi, 38]


a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor.
Agora São Paulo procura mostrar a superioridade da caridade: os demais carismas estão vinculados ao desenvolvimento terrestre da existência cristã; pertencem, por assim dizer, ao tempo da infância, portanto estão destinados a desaparecer quando chegar o momento da maturidade: a caridade, pelo contrário, antecipa já, a maturidade e permanece na eternidade.

8O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil
9Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.
10Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
11Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.
12Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.

13Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor.
Um outro Hino ao Amor


«Se eu tivesse em mim
todas as emissoras,
os palcos de rock do mundo inteiro,
os altares e cátedras
e os parlamentos todos, mas não tivesse Amor,
seria ... apenas ruído, ruído no ruído.

Se tivesse o dom de adivinhar
e o dom de encher os estádios
e de fazer curas milagrosas
e uma suposta fé, capaz de transportar
qualquer montanha,
mas não tivesse Amor,
eu seria apenas ... um circo religioso.

Se eu distribuísse,
em cabazes do Natal
e em badalados gestos caritativos,
os bens que ganhei - bem? mal?
, quem sabe? quem não sabe?-
e fosse até capaz de gastar a minha saúde
para ser mais eficiente, mas não tivesse Amor,
eu seria apenas ... imagem entre imagens.

Paciente é o Amor e disponível,
como um regaço materno.
Não tem inveja nem se vangloria.
Não procura tirar juros como os Bancos,
sabe ser gratuito e solidário, como a mesa da Páscoa.
Não pactua com a injustiça, nunca!
Faz a festa da Verdade.
Sabe esperar, forçando impertinente
as portas do futuro.

O Amor não passará, mesmo que passe
Tudo o que não é ele.
No entardecer da vida
O amor nos julgará.

Criança é a ciência e anda de gatinhas;
criança é a lei; o dogma, brinquedo.
O Amor já tem a idade sem idade de Deus.
Agora é um espelho a luz que contemplamos;
um dia será o Rosto, face a face.
Veremos e amaremos
como Ele nos vê e ama.

Agora são as três:
A fé, que é noite escura;
a pequena esperança, tão tenaz;
e ele, o Amor, que é o maior.
Um dia, para sempre,
para lá da noite e da espera,
será só o Amor»

DOM PEDRO CASALDÁLIGA




Bibliografia:

BENTO XVI, Encíclica Deus é Amor, Ed. Paulinas, Prior Velho 2006

BRUNO MAGGIONI, Ed Dios de Pablo y el Evangelio de la gracia, Ed. San Pablo, Madrid 2008

CADERNOS BÍBLICOS (DIFUSORA BÍBLICA), N.13: São Paulo no seu tempo; N. 42: Carta aos Romanos; N.55: I Carta aos Coríntios; N.71: I Carta aos Tessalonicenses

JOSÉ MARIA BOVER, Teología de San Pablo, BAC, Madrid 2008